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Antagonismos – ou as coisas que me indispõem...

Para ventilar os pulmões e lavar os fígados de toxinas.

Antagonismos – ou as coisas que me indispõem...

Para ventilar os pulmões e lavar os fígados de toxinas.

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Faz hoje exactamente dois meses que me estreei no universo web enquanto – rufem, pomposos tambores – criadora de conteúdos literários, ainda que, numa amadora prática, já o seja há uns 30 anos, porém sempre longe do olhar público, hoje electronicamente potenciado. Tão-pouco se chamava assim noutros tempos, eram só umas coisas que escrevia nuns cadernos, mostrava a alguns amigos, e guardava para mim.

Ao cabo de dois meses de actividade, creio ter reunido informação suficiente, não para tirar muitas conclusões, mas mais para levantar umas quantas questões, que resolvi partilhar. Não serão propriamente antagonismos que me indisponham, mas apenas considerações que me acutilam. Bear with me.

Quem se arrisca por essas redes sociais adentro, a tentar fazer pela vida – seja qual for a área de actuação – sabe bem, como esta novata veio a descobrir, como é difícil obter algum destaque e conquistar seguidores.

Começa-se timidamente por publicar um post ou dois, depois aprende-se a partilhar nas stories, e, mais à frente, arrisca-se a fazer uns atabalhoados reels. Vai-se melhorando, a cada dia, a aprimorar o look, a perceber afinal para que raio servem as hashtags, a definir um estilo, a adicionar músicas, links, etc. Tenta-se acertar a mão, aprender com os erros, aumentar a paciência e diminuir a falta de jeito. Diz-se muitos palavrões, arrancam-se uns quantos cabelos, bebe-se um chá (ou algo mais forte), e começa-se de novo.

É menos duro para uns – tecnologicamente mais sapientes – do que para outros – desastradamente mais nabos (como eu).

Contudo, avança-se.

O entusiasmo vai crescendo quando os algarismos sob o título “seguidores” começam a crescer também. Mas chegam a um ponto em que, eventualmente, abrandam e até estagnam. E ainda tão longe de revelarem um impacto significativo. As estatísticas da plataforma mostram a verdade incontornável: pouca interacção (ou seja, likes, comentários, menções, partilhas) resultam necessariamente em marasmo digital. É digital, mas dói no brio como se fosse analógico.

Descobre-se, então, que é preciso fazer muito mais do que o que tem vindo a ser feito para quebrar e vencer o tal de algoritmo – que, grosso modo, é um conjunto de critérios da rede social, que define que publicações devem ter mais destaque junto dos utilizadores. Um post ou uma página com poucos seguidores e com poucas interacções, só por obra e graça de nosso senhor conseguirá aparecer nas timelines do povo.

Assim, retorcida e redundantemente, quanta mais gente se alcança mais gente se conseguirá alcançar. Fácil, não? Pois não.

Pesquisar no google por dicas que ajudem a resolver este dilema é o mesmo que procurar uma fórmula para emagrecer rapidamente até ao Verão: quando há dúzias e dúzias de receitas infalíveis e milagrosas para um problema, é bastante óbvio que nenhuma resulta de facto.

No caso que me concerne, a coisa é ainda mais refinadamente retorcida, não só porque a mensagem não é directa e cativantemente visual, mas também porque há milhares e milhares de pessoas por essa literatura contemporânea afora a escrever e a escrever mesmo muito bem. Como sobressair?

As oportunidades de se alcançar a publicação tradicional por uma editora, já se sabe, são exíguas: não há editoras que arrisquem publicar novos autores. E quem as pode culpar, se o mercado já pouco absorve a produção até de autores consagrados?

É aqui que as editoras mais pequenas se tentam safar, com as bastamente publicitadas edições de autor. Hoje há preços para todos os bolsos, e critérios de publicação (ou falta deles) para todos os talentos (ou falta deles). Qualquer um, desde que o possa pagar, pode ver a sua obra publicada, em formato físico e digital.

Mas todos os aspirantes a escritores profissionais sabem que a autopublicação pode ser um definitivo tiro no pé. Foram muito poucos os autores autopublicados que conseguiram singrar também na publicação tradicional. Tratava-se de outros tempos e de outros génios, a fasquia Woolfiniana deixa-nos quase a todos aquém...

Nada a apontar a quem a ela recorre, mas não se chama vanity publishing em vão (traduzida à letra, edição por vaidade): é útil a quem já está bem servido de outras coisas na sua vida, e apenas lhe faltava satisfazer a sua vaidade – não serve a quem aspira ser um escritor validado e reconhecido por quem entende da poda, e ainda não está preparado para abdicar disso.

Serve também, claro está, às próprias editoras que publicam tremoço como se fosse caviar para ganharem dinheiro. Ainda lá não cheguei. Não me considero caviar, mas creio que tão-pouco chego a tremoço...

Se eu soubesse que a publicação de autor seria também sinónimo de validação e reconhecimento de talento, até arriscava pensar a sério no assunto. Como ninguém me pode garantir tal, vou explorando o universo virtual onde há público que me possa realmente validar. Não por vaidade, mas para sossego do meu torturado espírito criativo. Mas, aparentemente, nem aqui o desgraçado encontra retorno que o tranquilize: é difícil perceber se se está só a debitar conteúdo para o éter electrónico ou se há, de facto, alguém desse lado com olhos para ler e dedos para fazer like.

Tal como eu, há muita gente por aí a esforçar-se desalmadamente por vencer o sacana do algoritmo, dispostos aos maiores malabarismos para alcançar o seu justo público, mais ou menos o equivalente a fazer o pino só com uma mão, estalar os dedos com a outra, enquanto se gira pratos nas pontas dos pés, e se assobia o hino nacional. Até à exaustão. Até já não se saber o que mais inventar. Até correr o risco de se perder de vista o objectivo principal e desvirtuar todos os propósitos.

E, se calhar, não é preciso tanto, só um pouco de empatia e boa-vontade de quem nos vê: dos estranhos, com cuja gentileza, como diria a Monroe, podemos sempre contar, e dos que nos conhecem, cuja solidariedade podemos sempre esperar.

Por isso, malta, não se limitem a contemplar bovinamente as publicações que seguem ou vos surgem, como se fossem o Taj Mahal. Se gostam, mostrem-no. Se gostam mesmo muito, partilhem. Se sentirem confortáveis para isso (é uma ousadia que não é para todos, eu sei), comentem. Um emoji pode dizer tanto. A mim, pessoalmente, não, mas diz que para o algoritmo é poesia!

Não falo só por mim. Ok, falo principalmente por mim, mas não só. Há tanta gente cujo dia ficará emocionalmente ganho, apenas por que houve alguém que fez uma menção ou partilhou, comentou ou fez like. Não é dinheiro em caixa, mas é esperança para mais um dia. É determinação para não desistir. É inspiração para continuar a criar e saber que não se está sozinho. É fôlego para resistir e não se deixar afogar.

No que me diz respeito, e enquanto me for possível, nadarei para me manter à tona deste turvo mar algorítmico. O importante é não perder o pé...

[Foto de Capotina Entretenimientos: https://www.pexels.com/photo/a-clown-juggling-with-clubs-14911097/ ]